Patrimônio Histórico - O que preservar?


Já em 1936 Mário de Andrade entendia que "Patrimônio Artístico e Nacional são todas as obras de arte pura ou de arte aplicada, popular ou erudita, nacional ou estrangeira, pertencentes aos poderes públicos, e a organismos sociais, e a particulares estrangeiros residentes no Barsil."

Ideologia preservadora tão abrangente ampliou horizontes e as manifestações culturais do homem brasileiro passaram a não ser mais apenas seus artefatos e edificações, mas também o seu costume e o seu saber-fazer. Entretanto trouxe a dúvida: o que preservar?

Atualmente, falar de Patrimônio Histórico ainda é polêmico, pois traz à tona questões nem sempre fáceis de serem contornadas. Tal assunto abrange a cidade em todo o seu conjunto e envolve interesses variados. Satisfazer todos os moradores é tarefa impossível. Por isso, aplicar quaisquer que sejam os ideais de preservação acaba sendo uma jornada, cujo significado nem sempre é bem compreendido. Mas é necessário corre todos os riscos em prol de manter a integridade histórica da cidade.

Alguns exemplos do nosso vasto Patrimônio (no sentido mais amplo da palavra) são as edificações históricas de estilo Neoclássico (Palácio Paranaguá - sede da Prefeitura Municipal); de estilo Neogótico (Instituto Nossa Senhora da Piedade); de estilo genuíno Barroco (Capela de Santana - Rio do Engenho)... Sem esquecer dos prédios perpetuados na literatura regional, como o Bar Vesúvio e suas personagens interpretadas, atualmente, pelos atores Ely Isidro (Nacibe) e Janete Lainha (Gabriela) - divulgadores da cultura local para turistas. Assim como as rodas de capoeira de Mestre Luis Macedo - o tempero do verão; os retratos das personalidades políticas de Catarí Borges; os cordéis de Gilton Thomás ("causos" populares); o improviso do repentista Mestre Azulão; o retorno à oralidade nas histórias grapiúnas contadas por José Delmo; o Memorial da cultura negra; as esculturas de trabalhadores rurais do artista Souza - já expostas no Museu do Folclore do Rio de Janeiro; os grupos de Bumba-meu-boi; a festa da Puxada do Mastro em Olivença; a presença marcante da cultura indígena e, por fim, a todas Instituições e Ongs divulgadoras de nossa cultura, nossa culinária e até mesmo a beleza natural de Ilhéus. Não havemos de esquecer tantos outros nomes expoentes, artefatos, edificações históricas e reservas ambientais não citadas neste breve artigo.

Drª. Karina Gomes Cherubini, Promotora do Patrimônio Histórico do MPE - Ilhéus, em palestra promovida pela FUNDACI - Quartas Culturais, esclarece a visão legislativa a respeito do patrimônio cultural e alerta para nossas atitudes e responsabilidades sociais, quando diz "a cultura de uma sociedade pode ser de adesão ou de aversão às coisas da cidade". Um convite ao cidadão ilheense para discutir sobre sua história, assegurando o exercício da democracia.

Porém, preservar o passado nao implica censurar o novo. A chave é encontrar a harmonia entre o antigo e o atual, se decidirmos trilhar esse caminho. Exemplo disso podemos encontrar nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. Alguns prédios históricos, Pinacoteca (centro - SP) e o Amarelinho (Cinelândia - RJ), mantêm a "fidelidade" de suas imponentes fachadas e desfrutam de interiores de conceitos decorativos atuais no que diz respeito à segurança, à funcionalidade do espaço à qual estão destinados (o primeiro, Centro Cultural, e o segundo, Prédio Comercial). Junto à beleza dos designers contemporâneos a serviço da tecnologia. Mas se preferirmos outros rumos, podemos tomar como exemplo Ouro Preto - MG, primeira cidade a ser preservada no Brasil. Lembrando... para preservar a história colonial mineira, implicou-se abrir mão de edificações e artefatos públicos modernos e contemporâneos.

Sejam quais forem os rumos a serem tomados, ao olharmos em nossa volta, perceberemos saídas para uma união favorável entre passado e presente. Assim, precisamos o mais rápido possível escrever hoje o que nossos bisnetos irão desfrutar.

Qual será o teor dos capítulos da "Cidade Romance do Brasil"?...

Nessa história, somos co-autores, consequentemente, temos responsabilidade com ela. Para saber "o que preservar?" se faz necessária a opinião pública. Responder esta questão é ir de encontro à nossa identidade. A descoberta implicará gostar de nós mesmos, valorizar nosso jeito, conservar nossas formas, nossas cores, nossas músicas, nossas danças, nossas estórias... A NOSSA GENTE ILHEENSE!...

Mas, afinal de contas... "Alô, Rio de Janeiro, aquele abraço! O meu caminho pelo mundo eu mesmo traço. A Bahia já me deu: régua e compasso. Quem sabe de mim sou eu, aquele abraço!" (Gilberto Gil)

Centro de Ilhéus
Catedral de São Sebastião a frente e Instituto Nossa Senhora da Piedade ao fundo no centro da foto

Artigo publicado no ano de 2006 no Diário de Ilhéus.

Comentários

Belíssimo texto. Aquele abraço
Uma boa semana para você
Cheyenne Pereira disse…
Oi Martha! Quanto tempo... escrevo pra dizer que estou de volta ao blog! Espero ter a sua companhia para trocarmos mais figurinas. Bjs :)
Anônimo disse…
Adorei seu trabalho parabéns !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Anônimo disse…
Crdeooooooooooo q isso !!nao me ajudou em nada

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