Você que entende de arte, responda-me: Arte ou lixo?
Dedicado à Mariana Reich
Foi esse o questionamento encontrado por mim em minha caixa de recados do orkut. A dúvida em questão foi devido ao trabalho artístico de Guillermo Habacuc Vargas, apresentado na Exposição Nº 1, realizada em agosto de 2007, em Manágua – Nicarágua. A instalação de Habacuc promoveu em seu público uma fruição incômoda e perturbadora. Por expor um cão de rua, faminto e doente. Deixando-o amarrado na galeria até provocar sua morte por inanição. A prova disso é a publicação de inúmeros artigos com manifestações de protesto ao trabalho do artista. Assim como a elaboração de um abaixo-assinado para que não venham reconhecê-lo com nenhuma premiação. Pois ele foi um dos escolhidos para representar seu país - Costa Rica - na Bienal Centroamericana de Honduras 2008.
Porém, considero haver uma necessidade, ainda que sintética, de ir a busca de alguns pesos e algumas medidas para debater a questão. Sem deixar escapar a pergunta do título deste artigo.
A concepção da arte desde a modernidade foi começar a experimentar seu grito de autonomia. No princípio, meados de 1900, foram surgindo inúmeros movimentos de vanguarda. Artistas, da época, trouxeram para as galerias trabalhos de diversos procedimentos. Contribuíram para a desconstrução de toda e qualquer forma do ideal clássico. Posteriormente, vão se apropriar de objetos do cotidiano como matéria-prima para arte. Por fim: arte conceitual. Na atualidade, as instalações não abrem mão de ser essencialmente a construção de uma verdade espacial em lugar e tempo determinado. Por ser volátil e efêmera, absorve e constrói o espaço a sua volta ao mesmo tempo em que se desconstrói para materializar-se na memória.
Quando o conceito passa a ser a matéria-prima da arte, podemos “começar a aceitar” que somente nela a subversão pode vir a ser sublime. No entanto, o sacrifício da vida para ilustrar a Teoria da Arte, é inaceitável. O protesto é válido e se faz necessário. É nessa encruzilhada que vejo o trabalho de Habacuc. Certamente, não se trata de lixo e sim de arte! Porque a aceitação ou a indignação são qualidades positivas para o objeto. Pois é resultado direto da experiência estética do indivíduo com a obra. A atual necessidade da arte é de mexer mesmo com os sentidos do público.
No entanto é uma loucura perder a medida e ficar acima do bem e do mal. É absurda a idéia de ir além do Direito a Vida. Aceitar essa forma de arte passivamente é contribuir com fagulhas para uma fogueira não muito diferente daquela construída pelos Nazistas no passado. É estimular uma nova geração de artistas a um êxtase sinistro gozado apenas por todos os soldados (homens e mulheres) dos campos de concentração que assombraram e envergonham a nossa História.
A defesa de Habacuc é atacar a hipocrisia da sociedade. Ele não deixa de ter razão. Já ouvi histórias macabras de maus-tratos aos cães. Soube de um que morreu em iguais condições numa casa de praia pouco visitada pelos donos. E quando isso é real e não sabemos que existe, não nos atinge! Só que por saber disso, talvez fosse mais interessante ir a busca dessas imagens da vida real. Um vídeo-arte ficaria mais coerente para debater sobre esse perecer e porque não sobre essa falta de valor a vida em tempos atuais. O efêmero contido em todo ser vivo.
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Cão usado pelo artista na Exposição nº1 - crédito da foto: Blog Analog.
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